Negrais

Leitão assado em forno de lenha, espalmado.

Leitões abatidos com um peso entre 6 e 11 kg, assados em forno de lenha, com os pezinhos e as orelhas cortados, apresentam-se no comércio embalados em caixas de cartão.

Perde-se no tempo a azáfama de arranjo da leitoa assada de Negrais. Talvez nos finais do séc. XVIII já fosse possível inscrever alguns nomes dos primeiros assadores de Negrais. Manuel e António Joaquim Pacheco, Sabino, Domingos Silvestre, Caneira e Luís Feliciano são nomes sonantes dos antigos assadores. Alguns eram ao mesmo tempo assadores de leitoas, agricultores, tosquiadores de gado e cabouqueiros. Frequentavam as feiras religiosas à volta de Lisboa, tais como as de Nª Sra. do Cabo Espichel, Nª Sra. da Nazaré, Nª Sra. da Luz, Feira das Mercês, Caneças e Nª Sra. da Rocha. O leitão de Negrais está, assim, intimamente ligado às feiras tradicionais da região. Num jornal de 1921 surge uma notícia referente à Feira das Mercês, queixando-se o autor do artigo da fraca procura que o leitão tinha tido e cuja razão fora o seu preço excessivo. Em 1943, também em artigo de jornal, há referência às leitoas assadas que estavam a um preço mais acessível. Presentemente, o leitão assado está a ter grande procura, fazendo-se filas para a sua prova nos restaurantes de Negrais.

Festas Anuais

As festas de Negrais, celebram-se com uma periodicidade anual constante desde o ano de 1955 durante o fim-de-semana da terceira semana de Julho.
As celebrações populares organizadas pelas sucessivas comissões de festas têm como principais objectivos honrar, Nossa Senhora de Fátima proporcionando, ao mesmo tempo, diversão e entretimento a todos os que se dirigirem até Negrais, dando uma maior visibilidade à região.

 

O complexo arqueológico de Negrais

Constituídos essencialmente por carbonato de cálcio (calcite), os calcários são rochas pouco duras, e porque são extremamente fissuradas, permitem uma rápida infiltração das águas. As águas pluviais dissolvem o anidrido carbónico e acidificam, meteorizando quimicamente a rocha, que é esculpida por sulcos e cavidades, formando por vezes autênticos rendilhados.

É a estas formações cársicas – produto da corrosão química e da erosão mecânica – que se dá o nome de lapiás.

Para além do seu valor geológico e paisagístico, o campo de lapiás de Negrais distingue-se também pelo seu coberto vegetal de natureza mediterrânica.

O complexo dos Negrais foi a primeira estação arqueológica instalada num campo de lapiás a ser descoberta em Portugal.

A lenda do porco

Existe uma lenda que liga a Gruta da Raposa em Olelas à Gruta da Moura em Negrais. O primeiro investigador a relatar a tradição popular foi, em 1914, o arqueólogo Vergílio Correia (CORREIA 1914, p. 207):

“A Cova da Raposa tem uma boa entrada e é muito comprida e tanto que até corre no povo a lenda de que uma porca que por ela entrou, acompanhada dos seus bacorinhos, foi parar aos Negrais, que são um alto aglomerado de calcáreo com tocas, à distância de uma légua para E., na direcção de Mafra. As tocas que lá existem, levaram naturalmente o povo a elaborar a história, que não é original.” E acrescentava não serem “apenas estes os lugares onde, pelos arredores, há calcáreo esfuracado pelas grutas. No Penedo Gião, para lá dos Almornos, ao N., e sob a Portela, elas lá estão também, motivo de superstições e contos populares, quiçá abrigos de algum rico espólio preistórico”.

Cunha Serrão e Prescott Vicente ouviram em Olelas uma versão mais elaborada da lenda, mas cujo sentido é o mesmo: “Uma mulher deste lugar mandou o filho a Negrais com uma porca para aí ser coberta, acontecendo que em Olelas não havia então uma pinga de vinho (...), mas havia muito e do bom em Negrais. Assim antes de regressar, o nosso rapaz resolveu beber uns copos, e tanto bebeu que deixou fugir a porca, que enveredou pela Gruta da Moura (Negrais) tendo sido encontrada, algum tempo depois, na Cova da Raposa (Olelas), acompanhada pelas suas crias” (SERRÃO 1980-1981, I, p. 31).